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Ep. 11 - O futuro do Fotojornalismo

Foto do escritor: Arquivo RawArquivo Raw

 


O futuro do fotojornalismo


Roteiro

Temporada: 004

Episódio: 011

Gravação: Henry Milleo

Locução: Henry Milleo


<FADE IN

ENTRA MÚSICA

MÚSICA DESCE>


Olá, pessoal. Sejam bem-vindos a mais um episódio do Arquivo Raw, um podcast para falar de fotografia.


Eu sou o Henry Milleo, sou fotógrafo e editor de fotografia e também host dessa coisa toda aqui.


E esse é o primeiro episódio da quarta temporada do Arquivo Raw. Eu sei que você estava com saudades desse bate papo porque eu também estava, então logo logo eu vou entrar no tema de hoje mas, primeiro, eu preciso dar meus recados aqui.


E eu queria começar agradecendo ao pessoal que manda mensagens, que comenta os episódios e que manda sugestão de temas. A participação de vocês é essencial e eu espero que vocês continuem participando, porque a ideia principal disso daqui - apesar de ser um solocast - é criar mesmo uma comunidade para gente conversar sobre fotografia.


Aliás, vou adiantar aqui, criar realmente uma comunidade em uma plataforma está nos planos futuros que eu tenho para o Arquivo Raw, então quem tiver aí alguma dica de como seria mais prático e fácil fazer isso, manda um alô.


Mas é claro que para isso funcionar, para conseguir manter um calendário de encontros para discutir fotografia, é preciso que a audiência continue crescendo, então como eu sempre peço, compartilhe os episódios nas suas redes sociais e indique o podcast para aquele seu amigo, parente, vizinho ou conhecido que você sabe que se interessa por fotografia porque quanto mais a gente ouvindo, mais coisas a gente consegue construir em conjunto, ok?


Também quero pedir para você dar o seu feedback, mandar aí a sua opinião sobre os episódios. Você pode fazer isso pelo Instagram do Arquivo Raw que é @arquivo_raw, no seu tocador de podcast, se ele permitir essa interação e também para você classificar o podcast se o seu tocador tiver essa opção. Cinco estrelas seria fantástico, mas você é livre para classificar como quiser.


Outra coisa que eu quero dizer é que você também pode colaborar para manter o Arquivo Raw no ar ouvindo os episódios lá na Orelo. A Orelo é uma plataforma que remunera os criadores de conteúdo cada vez que você ouve um episódio por lá - não é muito, é coisa de centavos, mas no final já ajuda a manter isso aqui no ar.


Eu sei que é um pouco chato ter que baixar um outro aplicativo, fazer outro cadastro mas, se você puder, essa é uma maneira de você ajudar quem está criando conteúdo que você curte. E boa parte dos podcasts que você com certeza acompanha está lá na Orelo também, então você pode ouvir o Arquivo Raw e os outros programas que você segue e ajudar o pessoal que faz podcast no Brasil. Então se você quiser ouvir por lá é só procurar em orelo.cc/arquivoraw.


Outra forma de ajuda é fazer uma doação de qualquer valor para a chave pix que está na descrição desse episódio. Toda a ajuda é bem-vinda.


E também me sigam lá no instagram que é @henrymilleo, ok?


Dito tudo isso, vamos para a vinheta e para o episódio.


<ENCERRA MÚSICA E ENTRA VINHETA

ENCERRA VINHETA E MÚSICA VOLTA>


E para esse primeiro episódio dessa nova temporada - dessa quarta temporada - o tema vai ser novamente o fotojornalismo. Mas não se preocupe que essa não será uma conversa repetitiva, até porque fotojornalismo é um assunto que rende pano para muita manga.


Então, para ser mais específico, eu vou falar hoje sobre o futuro do fotojornalismo, que foi um tema pedido por um ouvinte. Um ouvinte que está começando a faculdade de jornalismo e que disse estar um pouco apreensivo porque a ideia dele era trabalhar nesta área, mas que tudo o que ele escuta dos profissionais são reclamações e desesperança.


Então, para me adiantar no resultado final desse papo e acalmar ele logo de cara, eu quero dizer: não fique desesperançoso. O fotojornalismo ainda existe, resiste e vai estar aqui por um bom tempo ainda.


Então vamos lá. Vamos falar sobre o fotojornalismo dos dias atuais e dar uma ideia do seu futuro.


Primeiro eu queria dizer que é comum você ouvir discursos desencorajadores sobre a profissão de jornalista e, consequentemente, de fotojornalista.


O piso da categoria é menor que de muitas outras profissões, é mentalmente desgastante e muito exigente. Você trabalha com informação e isso não é algo simples de se fazer, principalmente no cenário atual, onde as pessoas acreditam que sabem tudo e que a fonte que elas consomem é a correta, por mais que essa não seja uma fonte oficial ou mesmo confiável. E isso pelo simples fato de que aquela fonte em específico legitima o discurso daquilo que a pessoa acredita, seja lá no que for que ela acredite.


Então, sim. Você vai ouvir muito discurso desencorajador, muita crítica e, provavelmente, vai lidar com isso durante toda a sua carreira.


Mas aqui entra uma questão, que pode parecer um tipo de romantização do ofício, mas que eu creio que é verdade, que é: jornalismo é vocação e não profissão. Não é o tipo de carreira que você escolhe pelo ganho financeiro (porque não há um grande ganho), pela projeção (porque não há uma grande projeção) ou por qualquer coisa assim (porque não há qualquer coisa assim). Você escolhe o jornalismo simplesmente porque não poderia fazer outra coisa que não isso.


Aliás, eu ouvi recentemente em um episódio do podcast Vida de Jornalista, uma frase do PC Vasconcellos - que é jornalista e comentarista esportivo - que resume muito a escolha pela profissão. Ele disse: O jornalismo é uma atividade feita por quem se importa. Se você se importa com desigualdade social, intolerância, com qualquer coisa desse tipo, você pode ser jornalista.


Mas, pulando para o fotojornalismo em específico, eu preciso dizer que no cenário atual, esse não é um trabalho fácil. Mas também não era fácil há 10, 15 ou 20 anos atrás.


Eu comecei a trabalhar com fotografia para jornal em 1995, em um jornal do interior, de tiragem mensal. Ainda não existiam as câmeras digitais, era preciso fazer o past up da edição para ir para o fotolito e depois para a gráfica. Coisa tipo neandertal, para quem nasceu depois dos anos 2000.


E já naquela época era difícil conseguir vaga em um jornal. E, pior, era preciso conseguir uma vaga em um jornal se você quisesse trabalhar com fotojornalismo.


Hoje existem bem menos jornais, principalmente se tratando de jornais do interior, veículos locais que, para mim, são o pilar do jornalismo, o porta voz da comunidade onde está inserido. Mas você tem muitos outros canais para oferecer e publicar o seu material.


Também era difícil conseguir vaga em uma agência de notícias, até porque existiam muito poucas delas, enquanto hoje é relativamente mais fácil. As agências precisam de volume para ganhar algo e quanto mais fotógrafos cobrindo mais eventos em um maior número de locais elas tiverem, mais material vão ter e mais clientes podem conseguir.


E as barreiras geográficas também mudaram. Antes era preciso estar em um centro maior, com mais volume de notícias, enquanto hoje você não necessariamente precisa estar em Nova Iorque ou em São Paulo. Se você souber caçar e oferecer uma pauta, pode conseguir publicar em veículos de qualquer lugar, mesmo estando em uma cidade que, teoricamente, não gera notícia no mesmo ritmo de uma megalópole. Tudo vai depender da tua habilidade de farejar a história, da forma como vende a pauta (e aqui o vender significa convencer o editor do veículo de que ela é boa e você é capaz de fazer) e da tua capacidade de contar uma história.


Então a verdade é que sempre foi difícil trabalhar com fotojornalismo. Esse não é um problema do cenário atual. Claro que cada época tem sua dificuldade específica, mas a dificuldade sempre existiu.


Mas, para citar aqui só o atual, até porque águas passadas não movem moinhos, apesar de sempre ser necessário a gente saber de onde viemos para poder planejar para onde vamos, eu vou afunilar o assunto e tratar exclusivamente do cenário hoje.


O que eu vejo como o maior problema externo é o fato de os jornais trabalharem contra o jornalismo na questão da fotografia.

Isso porque entre contratar um profissional ou um fotógrafo freelancer e publicar uma imagem cedida por um colaborador amador, é sempre essa última que prevalece. Única e exclusivamente por questões financeiras.


Ou seja: para economizar, os veículos aceitam sacrificar a qualidade e - muitas vezes - a ética e o profissionalismo.


Mas isso é resultado das alterações que as novas tecnologias e redes sociais trouxeram na forma como as notícias são produzidas e consumidas e só esse tópico já renderia uma discussão interminável, então vamos seguir em frente.


Outro ponto foi a crise econômica que atingiu o jornalismo. Boa parte dos veículos cortaram suas vagas e, na grande maioria, esses cortes foram nos departamentos de fotografia.


Alguns veículos inclusive chegaram a fechar o departamento de fotografia completamente, demitindo todos os fotógrafos e deixando a cargo dos repórteres usarem o celular para fazer um registro da pauta. E aqui eu falo fazer um registro porque é isso mesmo. Não é uma foto pensada, é só um registro.


Um bom exemplo de como isso aconteceu foi o Chicago Sun Times, que lá em 2013 demitiu todos os seus fotógrafos, fechou o departamento de fotografia e comprou iphones para os repórteres fazerem as vezes de profissionais da imagem. E o resultado ficou muito, mas muito ruim.


Aqui no Brasil isso também aconteceu. A Gazeta do Povo, jornal de Curitiba – onde eu trabalhei por quase duas décadas, também fechou o departamento de fotografia, em 2019, e usa material de agências e também produzido pelos repórteres.


Além de vários outros jornais que reduziram suas equipes de fotógrafos para cortar gastos e sobreviver.


Então esse foi um baque forte no fotojornalismo mas, como eu já disse: quando uma porta se fecha uma janela se abre.


O segundo problema - que eu considero como o maior problema – é interno. É o pensamento do próprio fotógrafo.


Veja bem. Existem dois tipos de cobertura jornalística e fotográfica:


A primeira é o hard news. Que é a notícia do momento, algo que está acontecendo, um assunto que está em voga, que está sendo falado. Pode ser um tema social, político, econômico, cultural, de saúde etc.


Esse tipo de assunto exige que você trabalhe rápido e focado no timming dele. Algo que pode estar acontecendo hoje mas que amanhã já esfriou, ou algo que teve um início hoje e vai repercutir ainda durante um tempo.


Por exemplo: uma manifestação por direitos civis. Povo na rua com cartazes, bandeiras, polícia acompanhando. Esse tipo de situação exige que você esteja lá, que você tenha esse compromisso na agenda: dia tal na hora X tu tem que estar no local Y para fotografar.


E não só fotografar: fotografar, descarregar, editar e enviar o material.


Esse é um tipo de cobertura que tem muita concorrência. Principalmente se você está em um grande centro. Você vai perceber que ao seu redor vai ter muito fotógrafo registrando aquilo. A maioria freelancer como você e, muitas vezes, distribuindo para a mesma agência que você.


O segundo tipo de cobertura é aquela que não tem uma data específica para ser publicada. É aquele assunto que você descobriu, aquele personagem que você encontrou e que você decidiu cobrir.


Por exemplo. Esses tempos atrás eu fiz aqui na minha cidade um material sobre um artesão que produz lustres. Esses lustres feitos de pedraria. E é um artesão cego. Então ele imagina mentalmente o desenho do lustre, usa as mãos e os dedos para fazer as medidas e confecciona lustres gigantescos.


É uma pauta sobre personagem, sobre superação e sobre criação artística de um objeto que é ligado à iluminação, feito por uma pessoa que - como ele mesmo disse - vive na escuridão.


E não é uma pauta que precisa ser publicada em um período de tempo específico. E é o tipo de pauta que você encontra e oferece para os veículos.


Então é possível encontrar pautas em todos os lugares, sejam elas de hard ou soft news. Basta você perceber as coisas ao seu redor.


E isso pode estar vinculado a um tema que está sendo debatido. Por exemplo: mudança climática, meio ambiente, direitos humanos, racismo, economia e questões sociais são temas que sempre estão na pauta dos jornais, não importa se são assuntos com abordagem de hard news ou atemporais.


Resumindo: Não é fácil trabalhar com fotojornalismo atualmente mas, como eu já disse - e até falei disso no papo com o Toni Pires no episódio da temporada anterior sobre fotojornalismo - nunca foi fácil.


Cada época tem as suas dificuldades mas o fotojornalismo se espreme, se retorce, se ajeita e segue em frente. Muitas vezes convertendo o que em um primeiro momento parece um problema em uma ferramenta de trabalho.


Por isso não desanime. O cenário não é um mar de rosas, mas também não é a Divina Comédia de Dante.



<ENCERRA SOM E ENTRA VINHETA

ENCERRA VINHETA E ENTRA MÚSICA>



<SOBE MÚSICA

DESCE MÚSICA>


E é isso. Como a ideia do podcast é não fazer episódios muito longos - até porque se eu não me policiar eu fico aqui falando por horas - eu vou encerrando por aqui, mas já avisando que eu vou seguir com o tema no próximo episódio, só que de uma maneira mais prática, trazendo dicas de como começar como fotojornalista freelancer.


Dicas que eu sempre dou para quem está em início de carreira e que eu ainda hoje sigo. Então fiquem ligados para a próxima semana.


Esse episódio trilha do podcast ponto co.


Fiquem bem, até a próxima. Ciao.


<SOBE MÚSICA

FADE OUT

ENCERRA>



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